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Mostrando postagens de 2010

PELO SONHO É QUE VAMOS

Pelo Sonho É Que Vamos 1 Desabrochada no deserto voz humana Descampada no sereno e no abandono Desterrada por inverno em noite inglória Desgastada num repuxo o seu engano Revertida para a morte em confluência Repousa sobre o chão como em candura Repisada a juventude e a inocência Retorna humana a andar na lama escura Concisa humana voz pretensiosa Precisa e laboriosa voz humana Louvada humana voz silenciosa Silenciosa desce à terra sem importância Porque agrada ao ditador calar-te a ferro Feroz a voz humana em arrogância... 2 Repisa no humano o tanque bruto Refreia o humano a mão ditosa Regurgita sobre o homem o seu esputo Reverte a voz humana à sepultura Despenca feito a noite a foice impune Desprende do seu tronco humana sede Depura com furor humano estrume Desfigura a inocência e a encobre Calar-te humana voz é imperativo Amordaçar-te é impreciso voz humana Impreciso imperativo é assassinar-te Geme em cadafalso teu ativo, Retorce tronco frio se

CÍRCULO

Nunca mudo, Escreve, odeia e sente, Sobretudo sente o mundo Confuso e maledicente. Nunca mudo, Escreve, sente e odeia, Sobretudo odeia o mundo Maledicente e cadeia. Nunca mudo, Sente, odeia e escreve, Sobretudo escreve o mundo Cadeia, confuso e breve.

O POETA

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Às vezes eu queria ser um ignorante... mas sou poeta! Ninguém escreve poesia porque é bonitinho. Mas porque a humanidade está cheia de sentimentos. A poesia é uma arte sugestiva que se utiliza do símbolo e se recusa a imitar a vida. Por esta razão, estimula a imaginação do leitor e se apodera de seus sentimentos, incitando-os a ardorosas ações. A poesia também apela ao intelecto e é capaz de “ministrar diretamente lições de profunda sabedoria”. Devido a sua própria estrutura, a poesia é necessária em épocas de predomínio da razão a fim de dar vazão às emoções. A humanidade, com suas lutas, com seus sentimentos e seus conflitos, clama por alguém capaz de expressar seu espírito para logo depois esquecer suas dores, ou mesmo para acentuá-las ainda mais, como se feridas fossem abertas, ou expostas, ou cutucadas até o limite. O poeta é o porta-voz de uma mentira que embeleza a vida, de uma seqüência de verdades incrustadas numa mentira, de um mundo imaginado, simbólico, irreal e imortal e,

A DESPEITO DE UM RETRATO...

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A despeito de um retrato... Você me vê. Olha o meu retrato e me vê, projetado por uma lente, E acredita que, ao ver minha imagem, sabe que eu sou. Não sabe, não. Minha alma é grande, não cabe na foto. Meus desejos são imensos, Minhas contradições abundam. Minha vida não cabe no retrato. Não olhe para minha imagem acreditando que me vê. Não vê! Eu, Toda a minha essência, Estou mais nas palavras que escrevo do que Na foto que projeta minha imagem. Imagem não é nada, É apenas uma representação infiel daquilo que não sou. Eu não tenho rótulos e nem sustento dogmas. Meu universo... Escadas se rompem sob meus pés E agora me vejo caindo, Com meu coração vazio, Como se uma mão enorme Houvesse tirado dos meus pés o chão. Miro o solo... Em poucos momentos não serei mais... Mesmo agora me pergunto: quem sou? Eu mesmo não tenho nenhuma resposta, Apenas uma vaga orientação: Al Yasa é meu nome, Por ele sou grande, Existo e me realizo. Para além de mim Não há mais nada. Alegro-me por você te vindo...

O ÚLTIMO ATO

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O ÚLTIMO ATO No parapeito, Ele finalmente tentou se reencontrar. Onde estava, e o que havia dentro de si, Tentou ver ao fechar os olhos. Tolice! Quando você fecha seus olhos, O mundo não se abre nem se parece mais lindo, Ele se fecha. E tudo o que existe É a escuridão. E mesmo que você busque, Tateando, Não encontrará consistência, Porque o negrume não tem espessura Ou volume. Precipitou-se do parapeito com os olhos fechados, E o vazio o acolheu...

O DIA EM QUE MORRI

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Hoje eu sou um espírito andando por aí. Como uma sombra, tenho grandes virações e experimento ver o mundo de uma maneira que nem mesmo quando eu ainda vivia em meu corpo humano jamais experimentei ou sonhei. No entanto, naquela noite em que morri eu estava calmo. Recordo-me bem. Eu estava sentado num café, bebericando café e saboreando iguarias quando aquele homem chegou. Ele trajava uma roupa velha, muito gasta e tinha um odor amargo. Olhou o salão furtivamente, sem se fixar, mas reparou em todos os movimentos. Eu lia, mas vi quando ele me fixou, me olhando por sobre o ombro direito. Eu tentei desviar meu olhar, mas o homem me percebeu. Ele veio até mim e se sentou na cadeira vazia. A barba hirta e suja, fedia. As unhas sujas começavam dedos grandes com nódulos salientes e cortes indistintos que marcavam a vida sem esmero daquele homem. A jaqueta vermelha rasgada e o velho jeans desbotado complementavam o visual dantesco sentado ali, bem próximo, me enojando. E eu, cristão, fingia