A IGREJA DO MILAGRE


A IGREJA DO MILAGRE

Gostamos de acreditar que a Igreja do Rosário é milagrosa. No imaginário popular, a igreja é muito mais que um santuário de fé e devoção. É um templo onde fenômenos, cujo único epíteto é milagre, ocorrem.

Esta é uma das muitas histórias dos antigos. Dizem os mais velhos que nos idos de 1945, às sete horas da manhã de um domingo, um pai subiu a rua, naquela época de terra batida, em busca do consolo paroquial. O filho mais velho dele havia morrido havia poucos dias numa incursão da FEB, em Monte Castelo, na Itália, e o filho mais moço jazia acamado, com uma doença que os médicos da época não souberam diagnosticar.

O homem subiu a rua chorando e soluçando. Tinha nas mãos um rosário de muitas contas e no peito uma dor do tamanho do mundo. Dizem que quando ele alcançou a sombra da igreja, que se lançava solene sobre o chão numa dimensão muito extensa, desmaiou. Depois do que pareceram horas, pensou ter ouvido uma voz: “Acorda, Felício. Vá para casa”.

Ele se levantou, sacudiu a poeira, olhou em volta, mas não havia ninguém. A igreja ainda estava fechada porque no começo da noite anterior havia chovido muito e o padre não quis realizar a missa no horário de praxe para não sobrecarregar os fiéis.

Seu Felício, aturdido, ergueu a cabeça e procurou de onde saíra aquela voz, que ainda renitia em sua memória: “Vá para casa”. Ele obedeceu. Enxugou as lágrimas, se ergueu, sacudiu a poeira e desceu a rua, na direção de casa. Ia cabisbaixo quando, de súbito, um vulto apareceu no horizonte. Dizem que era o filho, que vinha buscá-lo, montado no cavalo branco que Felício lhe dera. O garoto estava completamente são.

Seu Felício, como gratidão, construiu um cruzeiro de madeira e colocou fincado na frente da igreja. Até hoje o cruzeiro está lá, pintado de branco. É o primeiro que a gente avista quando sobe a rua.

Faz pouco tempo, uma velhinha coxa passava em frente à igreja. Roteiro habitual. Todos os dias a senhora fazia a mesma prece: “Valei-me, meu São Jorge Guerreiro!”. Todos os dias, durante muito tempo, ela fazia o mesmo trajeto e a mesma prece: “Valei-me, meu São Jorge Guerreiro!”.

Dizem que um dia, às sete horas, quando ela alcançou a solene sombra, ainda mancava. Contudo, quando cruzou a extensão da sombra, andava firmemente, sem qualquer problema na perna.

Esta história foi contada por um mestre de obras, que construía uma casa pouco mais de 300 m dali. Ele estava lá todos os dias, havia trinta dias, e todas as manhãs ele observava a velhinha, que sempre cruzava a sombra na mesma direção, fazia uma prece e seguia. Ele ficou tão surpreso, que correu, ele e todos os seus ajudantes, e se ajoelharam na sombra, beijando o chão e fazendo reverência à Igreja.

Disse, no entanto, que a senhora simplesmente continuou seu trajeto, sem se dar conta de que estava sã, mas que, no outro dia, quando ela passava, trouxe uma pequena oferenda e depositou aos pés do cruzeiro. Curioso, ele retirou a oferta do local e leu. Tratava-se de uma pequena oração, escrita em letras tremidas: “Agradeço-te, meu São Jorge Guerreiro, que na hora de minha agonia me valeu”. Eles não viram mais a velhinha.

Talvez o leitor se pergunte por que escolheu ela São Jorge. É simples. São Jorge é o santo que melhor representa o sincretismo entre o catolicismo e as religiões africanas. Além disso, é o santo “guerreiro” cuja luta interminável emociona, inspira e exemplifica.

Como dizem os antigos, para cada pessoa existe apenas um milagre. O daquele pai foi o restabelecimento do filho. O da velhinha, a cura da perna. O do pedreiro foi ver o milagre da velhinha. E o nosso será perpetuar essa fama.

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